ellauri090.html on line 36: A Academia surgiu mais como um vínculo de ordem cordial entre amigos do que de ordem intelectual. No entanto, a ideia do instituto não foi bem aceita por alguns: Antônio Sales testemunhou numa página de reminiscência: "Lembro-me bem que José Veríssimo, pelo menos, não lhe fez bom acolhimento. Machado, creio, fez a princípio algumas objeções." Como presidente, Machado fazia sugestões, concordava com ideias, insinuava, mas nada impunha nem impedia aos companheiros. Era um acadêmico assíduo. Das 96 sessões que a Academia realizou durante a sua presidência, faltou somente a duas.
ellauri090.html on line 90: Joaquim Maria Machado de Assis (Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839 – Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1908) foi um escritor brasileiro, considerado por muitos críticos, estudiosos, escritores e leitores um dos maiores senão o maior nome da literatura do Brasil.
ellauri090.html on line 147: —Bolha não tem opinião. Apparentemente, ha nada mais contristador que uma dessas terriveis pestes que devastam um ponto do globo? E, todavia, esse supposto mal é um beneficio, não só porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistencia, como porque dá logar á observação, á descoberta da droga curativa. A hygiene é filha de podridões seculares; devemol-a a milhões de corrompidos e infectos. Nada se perde, tudo é ganho. Repito, as bolhas ficam na agua. Vês este livro? É D. Quixote. Se eu destruir o meu exemplar, não elimino a obra, que continua eterna nos exemplares subsistentes e nas edições posteriores. Eterna e bella, bellamente eterna, como este mundo divino e supra-divino.
ellauri090.html on line 154: Ouça, ignaro. Sou Santo Agostinho; descobri isto ante-hontem; ouça e cale-se. Tudo coincide nas nossas vidas. O santo e eu passámos uma parte do tempo nos deleites e na heresia, porque eu considero heresia tudo o que não é a minha doutrina de Humanitas; ambos furtámos, elle, em pequeno, umas peras de Carthago, eu, já rapaz, um relogio do meu amigo Braz Cubas. Nossas mães eram religiosas e castas. Emfim, elle pensava, como eu, que tudo que existe é bom, e assim o demonstra no cap. XVI, livro VII das Confissões, com a differença que para elle, o mal é um desvio da vontade, illusão propria de um seculo atrazado, concessão ao erro, pois que o mal nem mesmo existe, e só a primeira affirmação é verdadeira; todas as cousas são boas, omnia bona, e adeus.
ellauri090.html on line 175: Machado de Assis é considerado o introdutor do Realismo no Brasil, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Este romance é posto ao lado de todas suas produções posteriores, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires, ortodoxamente conhecidas como pertencentes à sua segunda fase, em que notam-se traços de crítica social, ironia e até pessimismo, embora não haja rompimento de resíduos românticos.
ellauri090.html on line 177: Embora seja chamada de "realista", os críticos não deixam de notar que a riqueza de gêneros e elementos nessas obras também adere resíduos do Romantismo e impressionistas. Além disso, nessas obras Machado de Assis não compactua com o esquematismo determinista dos realistas, nem procura causas muito explícitas ou claras para a explicação das suas personagens e situações.
ellauri090.html on line 181: Como nota José Guilherme Merquior, os estilos dos livros assemelham-se numa coisa: "capítulos curtos, marcados pelos apelos ao leitor em tom mais ou menos humorístico e pelas digressões entre graves e gaiatas". Além disso, os críticos não deixam de notar que os três livros criticam a sociedade do seu tempo:
ellauri090.html on line 196: Os críticos notam que o "Humanitismo" de Machado não passa de uma sátira ao positivismo de Auguste Comte e ao cientificismo do século XIX, bem como a teoria de Charles Darwin acerca da seleção natural.
ellauri090.html on line 202: Os críticos notam que na segunda metade do século XIX os intelectuais brasileiros interessavam-se com o "surgimento de novas ideias" como o já citado positivismo de Comte e o evolucionismo social de Spencer. Ao que tudo indica, Machado não compartilhava deste interesse e escreveu seus romances com ceticismo (skeptisesti) a estas escolas filosóficas e políticas. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, por exemplo, um importante aspecto do pessimismo de Brás Cubas é sua visão de que os valores são arbitrários.
ellauri090.html on line 220: O jovem Machado aos 25 anos, 1864, gostava de teatro e lutava para subir socialmente. Foto: Insley Pacheco (não incluido).
ellauri090.html on line 234: Um de seus amigos, Faustino Xavier de Novaes (1820–1869), poeta residente em Petrópolis, e jornalista da revista O Futuro, estava mantendo sua irmã, a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, desde 1866 em sua casa, quando ela chegou ao Rio de Janeiro do Porto. Segundo os biógrafos, veio a fim de cuidar de seu irmão que estava enfermo, enquanto outros dizem que foi para esquecer uma frustração amorosa. Carolina despertara a atenção de muitos cariocas; muitos homens que a conheciam achavam-na atraente, e extremamente simpática. Com o poeta, jornalista e dramaturgo Machado de Assis não fora diferente. Tão logo conhecera a irmã do amigo, logo apaixonou-se. Até essa data o único livro publicado de Machado era o poético Crisálidas (Koteloita, 1864) e também havia escrito a peça Hoje Avental, Amanhã Luva (1860), ambos sem muita repercussão. Carolina era cinco anos mais velha que ele; deveria ter uns trinta e dois anos na época do noivado.
ellauri090.html on line 249: Não há, não há contigo, Eipä, ei sun sykyssä
ellauri090.html on line 278: Os irmãos de Carolina, Miguel e Adelaíde (Faustino já havia morrido devido a uma doença que o levou à insanidade) não concordaram que ela se envolvesse com um mulato.
ellauri090.html on line 279: Diz-se que Machado não era um homem bonito, mas era culto e elegante.
ellauri090.html on line 286: E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.— Memórias Póstumas de Brás Cubas, Capítulo CLX.
ellauri090.html on line 291: Machado de Assis e Carolina Augusta teriam vivido uma "vida conjugal perfeita" por 35 anos. Quando os amigos certa vez desconfiaram de uma traição por parte de Machado, seguiram-no e acabaram por descobrir que ele ia todas as tardes avistar a moça do quadro de A Dama do Livro (1882), de Roberto Fontana. Ao saberem que Machado não podia comprá-lo, deram-lhe de presente, o que o deixou particularmente feliz e grato.
ellauri090.html on line 309: O fim da escravidão levara os aparelhos de ferro para a extinção, mas não levou a miséria e a pobreza. A grande parte do trabalho que era exercido pelos escravos, restava aos homens livres trabalhos mal remunerados e instáveis.
ellauri090.html on line 315: Memórias Póstumas de Brás Cubas tece críticas aos beneficiários da escravidão no Segundo Império, ricos, que não trabalhavam e que por isso lutavam e esperavam sua herança familiar, personificados no personagem Brás Cubas e nos outros;
ellauri090.html on line 329: A frase machadiana é simples, sem enfeites. Os períodos em geral são curtos, as palavras muito bem escolhidas e não há vocabulário difícil (alguma dificuldade que pode ter um leitor de hoje se deve ao fato de que certas palavras caíram em desuso). Mas com esses recursos limitados Machado consegue um estilo de extraordinária expressividade, com um fraseado de agilidade incomparável.
ellauri090.html on line 333: Chamamos aparência aquilo que aparece a nossos olhos, aquilo que primeiramente surge à observação; chamamos essência aquilo que consideramos a verdade, aquilo que é encoberto pela aparência. Mas o que tomamos por essência pode não ser mais do que outra aparência. O estilo machadiano focaliza as personagens de fora para dentro, vai descascando as pessoas, aparência atrás de aparência. Por isso, Machado é considerado grande "analista da alma humana".
ellauri090.html on line 337: Machado de Assis, como exímio intelectual e leitor, atribui a sua obra caráteres de arquétipos. Os acadêmicos também notam a constante presença do pessimismo. Suas últimas obras de ficção assumem uma postura desencantada da vida, da sociedade, e do homem. Crê-se que não acreditava em nenhum valor de seu tempo e nem mesmo em algum outro valor e que o importante para ele seria desmascarar o cinismo e a hipocrisia política e social.
ellauri090.html on line 345: "Fiquei tão entusiasmado com a facilidade mental do meu amigo, que não pude deixar de abraçá-lo. Era no pátio; outros seminaristas notaram a nossa efusão; um padre que estava com eles não gostou." (DC, p.824.)
ellauri090.html on line 350: Suas mulheres são "capazes de conduzir a ação, apesar do predomínio da trama romanesca não ter se esvaziado." As personagens femininas de Machado de Assis, ao contrário das mulheres de outros românticos — que faziam a heroína dependente de outras figuras e indisposta à ação principal na narrativa — são extremamente objetivas e possuem força de caráter.
xxx/ellauri125.html on line 134: O autor do romance, Vladi Nabokov, homem circunspecto, deixa a impressão de que é uma incógnita. Na verdade, não é. Ele escreveu sobre si, em “Fala, Memória” (Alfaguara, 328 páginas, tradução de José Rubens Siqueira), e há a estupenda biografia escrita pelo irlandês Brian Boyd (PhD em literatura pela Universidade de Toronto), publicada em dois volumes, “Vladimir Nabokov — Os Anos Russos” (Anagrama, 626 páginas, tradução de Jordi Beltran) e “Vladimir Nabokov — Os Anos Americanos” (Anagrama, 966 páginas, tradução de Daniel Najmías). Não há tradução brasileira. “Véra. Señora de Nabokov” (Alianza Editorial, 744 páginas, tradução de Miguel Martínez), de Stacy Schiff, é uma magnífica biografia de Véra Nabokov, a mulher do autor de “Fogo Pálido”. Trata-se, por sinal, de uma biografia indireta de Vladimir Nabokov. Ganhou o reputado prêmio Pulitzer.
xxx/ellauri125.html on line 136: O livro “The Real Lolita”, de Sarah Weinman, resgata a história de duas pessoas cuja história teria colaborado para a formatação do romance “Lolita”, de Vladimir Nabokov. Brian Boyd relata que Vladimir Nabokov leu “notícias sobre acidentes publicadas em jornais, sobre crimes sexuais e assassinatos: ‘um violador de meia idade’ que raptou Sally Horner, uma garota de 15 anos de Nova Jersey, e a manteve em seu poder durante 21 meses, levando-a como ‘escrava’ por todo o país até que a encontraram em um motel do sul da Califórnia”. O nome do homem não é citado. Por que a quase nenhuma importância dada ao caso? Porque, como mostra o biógrafo, o romance de Vladimir Nabokov vai muito além da história de Sally Horner e de seu raptador. Reduzi-lo a isto é reduzir a importância de sua literatura (que nada tem de jornalismo).
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